30 outubro 2005

Terramoto de 1755

Prejuízos do sismo de 1755 calculados em 75% do PIB
Cerca de 100 mil contos da época, correspondentes a 75% do PIB anual português em meados do século XVIII, é o cálculo que José Luís Cardoso, professor catedrático do ISEG, em Lisboa, faz sobre os prejuízos provocados pelo terramoto de 1755.

A catástrofe do dia de Todos-os-Santos foi devastadora e as perdas não se limitaram à derrocada de palácios e igrejas edificados com o ouro do Brasil, no então recente reinado de D. João V. Também há que contabilizar um riquíssimo património móvel, em jóias, obras de arte e dinheiro vivo que na época era só metálico. E as somas a que se chega são tão astronómicas que José Luís Cardoso, professor de História da Economia, verificou uma grande dissonância e notórios exageros quando investigou os valores referidos na época e que vão de 85 mil a 375 mil contos, com os mercadores estrangeiros, sobretudo ingleses, a queixarem-se de perdas na ordem dos 40 mil contos. Numa primeira abordagem, avaliou o volume dos prejuízos em 230 mil contos da época, mas ao confrontar esse valor com o que seria, então, o PIB considerou os números excessivos. Numa estimativa mais apertada aponta, agora, para 100 mil contos, correspondentes na altura a 75% da riqueza total produzida durante um ano em Portugal.

INCOMENSURÁVEL
Sobre os prejuízos do terramoto que estendeu a destruição por todo o Sul do País, desde Vila Real de Santo António a Castelo de Vide, na fronteira espanhola, e até à Ericeira, na costa Atlântica, José Luís Cardoso considera que há muito trabalho de arquivo por fazer. E quando houver resultados ter-se-á de admitir que mesmo os cálculos mais reduzidos podem parecer um exagero, já que os estragos foram incomensuráveis. José Luís Cardoso tem uma comunicação intitulada ‘Pombal, o Terramoto e a política de regulação económica’, anunciada para dia 4, no colóquio Terramoto de 1755 – Impactos Históricos, promovido pelo ISCTE e o ICS, em que abordará as consequências económicas da catástrofe sob outras perspectivas. A sua apreciação sobre as decisões de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, é muito positiva: ‘A sua preocupação foi evitar que os preços aumentassem, que houvesse um açambarcamento de bens alimentares, naturalmente escassos, ou que os salários subissem, além de tomar medidas de abastecimento, segurança dos cidadãos e saúde pública”, explica José Luís Cardoso, observando que para a reconstrução de Lisboa o reino criou apenas um novo imposto de mais 4% nos direitos alfandegários sobre as mercadorias importadas. Não havia que massacrar mais uma economia portuguesa em fase depressiva. O terramoto acabou até por ajudar ao crescimento.