17 março 2006

Snobes e elitistas

Artigo do Jornalista Pedro Maia, publicado em 20Fev06 no Observatório do Algarve, continua actual pela sua pertinência, pois este tipo de atendimento já é antigo em Faro e parece que vai continuar, ou rebentar, se é que já não rebentou!

Não me sinto à vontade a fazer compras em certos espaços do comércio da baixa de Faro. Não gosto do atendimento impessoal, snobe e elitista, quando deveria ser precisamente o contrário. Há lojas onde os empregados soltam esgares depreciativos ao verem os clientes. Abeiram-se das pessoas em milésimos de segundo, soltando o tradicional 'se-precisar-de-ajuda-é-só-dizer'.

Posso precisar. Agradeço a boa-vontade. Mas prefiro estar descontraído a ver os artigos. E o que não gosto é de estar entretido a ver roupa, calçado, livros ou outra coisa qualquer com um empregado na minha perna, tipo segurança pessoal.

Aconteceu-me três vezes, num só dia. Loja de desporto: entro em direcção à prateleira das sapatilhas e lá vem o 'se-precisar-de-ajuda-é-só-dizer', logo contrabalançado com o não menos tradicional 'estou-só-a-dar-uma-vista-de-olhos'.

E ali ficou a empregada. Especada, a um metro de distância, com um sorriso forçado nos lábios e de mãos atrás das costas. Parecia um manequim de montra a fitar o cliente.

Não perdi três minutos a ver sapatilhas. Metros adiante, incursão pela loja de roupa de um hugo-que-é-chefe. Passava revista nas camisolas em saldo, quando me apercebo de passos lentos e subtis na minha direcção, ao estilo de uma película de suspense Novamente uma mulher. Não soltou uma única palavra. Limitou-se a existir e a respirar no silêncio profundo, a escassos centímetros da minha presença. Ficamos ali os dois. Parecíamos um casal de namorados zangado.

Ainda olhei para trás para ver se havia reacção, uma expressão, um movimento… nada. Nem o 'se-precisar-de-ajuda-é-só-dizer'. Assim não levou com o 'estou-só-a-dar-uma-vista-de-olhos', mas antes com um 'boa-tarde', já ao pé da porta, logo respondido com um 'volte-sempre'.

Volto, volto, pensei. Quando for a Lisboa ou ao Porto logo vejo as modas do hugo. Ali não o faço mais.

Há dias maus e dois casos não se transformam em regra, a menos que se confirme o terceiro e então pode tratar-se de um sintoma de que algo vai mal. Depois das aventuras nas sapatilhas e nas camisolas, procuro calçado, outra vez em plena Rua de Santo António. Numa das lojas do manuel, que também é antónio, não vejo empregado ou empregada.

Ufa. Finalmente posso estar à vontade e ver o que me apetece sem ser alvo de caçadeira ocular. Se precisar de ajuda, chamo alguém quando bem entender.

Estava tudo a correr lindamente, vai daí que surge um homem baixinho ao pé do balcão. Caíu do céu. Nem 'bom-dia', nem 'boa-tarde', nem 'se-precisar-de-ajuda-é-só-dizer'. Apenas um murmúrio do género 'hummm, hummm' (não sei escrever de outra forma e por isso peço desculpa ao leitor), cujo significado era: 'olha-que-fiz-isto-só-para-saberes-que-estou-aqui'.

Que estás aí acabei eu de ver. Mas que diabos! Onde vão desencantar estas pessoas educadas e atenciosas?

Salvo raras e boas excepções, os empregados tem má cara e tiques superioridade.

Onde está o suposto atendimento personalizado, a boa educação e a simpatia? Não é o comércio tradicional que diz ser isso tudo e muito mais, em oposição aos centros comerciais?

Em muitas lojas não é. Das duas uma: ou esses comerciantes apostam em formação para os empregados, suavizando-lhes o trato e retirando-lhes os vícios, ou as grandes superfícies comerciais continuam a ganhar adeptos.

Depois queixam-se do êxodo de clientes e das dificuldades para manter o negócio aberto. Pudera...